terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ser e Estar

Dentro da TSKF utilizamos um sistema de graduação por cores de faixa que serve para fins didáticos. Entretanto, é possível usar esta divisão para observar um fato curioso em torno da atitude das pessoas.

Algumas pessoas "estão" em uma determinada faixa, enquanto outras "são" de uma determinada faixa. Mais ou menos como, no trabalho, tem pessoas que "estão" com a autoridade e outras "são" a autoridade.

Quem já tem algum tempo treinando consegue reconhecer aqueles que "estão" na faixa: têm um graduação geralmente além da verde, não costumam conversar com outros alunos, a não ser que seja para falar como eles sabem das coisas. Têm dificuldade em seguir as regras da academia e não vêem necessidade de tratar outros instrutores, que não seja o seu, com o mínimo de respeito. Falam ao celular dentro da área de treino, quando estão entrando ou saindo da academia, não acatam ordens e buscam sempre questionar o instrutor, colocando-se como gênios incompreendidos e que são podados de suas capacidades ao treinar com gente que eles chamam de "molóides". No momento dos avisos de final de aula, ficam de cabeça baixa ou dispersos, já que nada do que está sendo dito tem qualquer importância para ele. Acham que quando algo sai errado, é porque outras pessoas cometeram erros, já que ele não erra. Trata a academia como se fosse um anexo do seu quarto, ignorando que é um espaço de todos os que treinam. Se estão aguardando a sua aula começar, batem papo com seus iguais ou ficam treinando algum movimento enquanto os avisos são dados no final de aula. Enfim, a lista é longa e nem cheguei na metade...

Por outro lado, e aí temos alunos já graduados ou não, que possuem um comportamento adequado para alguém que é um faixa preta (mesmo que ainda não a tenha conquistado). Conversam como todos de maneira igual, seguem as regras e práticas da academia, respeitando à todos. Têm reverência para com a sala de treino, com a atitude de respeito correta. Sabem o momento e a forma de questionar o instrutor, sempre buscando sua evolução técnica. Ajudam irmãos de treino menos graduados quando possível e sem passar por cima do instrutor. Sabem de tudo o que está acontecendo na TSKF (e se envolvem), já que prestam a atenção devida aos avisos de final de aula. Assumem seus erros e trabalham para corrigí-los o mais rápido possível. Respeitam e aproveitam o fato da academia ser um espaço de todos.

Como podemos ver, tudo isso diz respeito a atitude que cada um decide adotar como a sua. E o mais importante, não é preciso esperar chegar até a faixa preta para ter uma atitude dessa. Na verdade é o contrário: cultivar atitudes como esta é que fazem o aluno chegar até a faixa preta e muito, muito além.

Naturalmente, todos nós (eu inclusive) devemos exercitar o cultivo das atitudes certas o tempo todo. Tratam-se de bons hábitos, difíceis de se desenvolver e facilmente perdidos sem a devida prática. Mas tudo fica mais fácil se você toma a decisão de "ser um graduado" e não apenas "estar graduado".

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Administrando os altos e baixos da vida

Na vida nós temos várias certezas as quais já nascemos com a habilidade de administrar sem qualquer problema; como, por exemplo; sabemos que vamos morrer e tocamos a nossa vida normalmente sem se preocupar muito com isso. Sabemos que temos que respirar senão morreremos, mas, quando vamos dormir não entramos em pânico ou desespero achando que poderemos morrer por falta de ar ou algo parecido.

Existem outras certezas na vida que não são tão obvias, mas, que são tão certas como a de que vamos morrer ou que temos que respirar. O problema é que quando nascemos não viemos com nenhum manual de instrução e, portanto, temos que aprender na base da tentativa e erro ou se formos mais espertos, observando aqueles que já passaram pelo processo.

Por exemplo; insistimos em cometer o erro de achar que temos que ser felizes o tempo todo e obviamente que isso é impossível, pois, a felicidade só existe por conta da infelicidade, ou seja, tivemos que um dia ter sido infelizes pra saber que estamos felizes. Achamos que devemos ser alegres o tempo todo, mas, isso também é impossível, já que a alegria também só existe por conta da tristeza.

Você deve estar se perguntando, porque ralhos o Shifu Gabriel está escrevendo sobre esses assuntos, já que isso não tem nada haver com meu treinamento de Kung Fu. Meu interesse é no Kung Fu e não nessas bobagens todas? Nesse caso minha resposta é que tudo está ligado entre si e, portanto, tudo tem haver com tudo o que fazemos.

Talvez fique mais claro se eu der alguns exemplos pra vocês; suponhamos que você esteja trabalhando numa ótima empresa e ganhando um salário muito bom e, de repente trocam a presidência da empresa e o novo presidente resolve mandar metade dos funcionários embora e você seja um deles. Nesse momento o mundo de muitas pessoas cai, muitos entram em depressão e nunca mais saem dela. Outros simplesmente desistem do Kung Fu por acharem que não mais poderão pagar suas mensalidades.

Vamos supor que você esteja perdidamente apaixonado por alguém, e, de repente sem mais nem menos essa pessoa chega pra você e fala aquela célebre frase, sabe o que é eu preciso conversar com você, daí você diz sim benzinho, o que você quer conversar comigo e ela diz novamente aquela célebre frase, sabe o que é eu não to mais afim de você. Nessa situação, os apaixonados costumam entrar em desespero, como se alguém tirasse de baixo de si o chão, entram em depressão e muitos levam anos até sair dela. Não tem nada haver, mas, nessa hora, a dor é tanta que muitos não querem ver ninguém na frente e por isso, até desistem do Kung Fu.

Sendo um pouco mais dramático, vamos supor que você de repente receba uma notícia muito triste, como por exemplo; que sua mãe, seu pai ou sua esposa ou esposo acabou de falecer. Saiba que esse é um momento muito doloroso pra qualquer um de nós e é em casos como esse que muitos sucumbem, entram em desespero e, simplesmente não sabem mais o que fazer da vida, param com tudo e se entregam a tristeza profunda e muitas vezes nunca mais saem dela.

Alguns de vocês devem estar pensando, nossa, esse cara é maluco, porque será que ele está dizendo tudo isso. Talvez alguns de vocês até desistam do Kung Fu apenas porque falei algumas dessas coisas. Na verdade, isso que estou falando não é pra aborrecer ninguém, são apenas fatos que eu já vi acontecer nesses mais de trinta anos de Kung Fu e que fez com que a maioria desistisse da academia em situações semelhantes.

Se não é para aborrecê-los, qual a lição que eu quero transmitir pra vocês falando tudo isso. Simplesmente dizer pra vocês que nessas mesmas situações onde muitos sucumbiram, entrando em depressão, ficando tristes por longo tempo ou simplesmente desistindo do Kung Fu, outros na mesma situação, tocaram suas vidas normalmente e continuaram com o Kung Fu, ou seja, se você pensar bem, pra qualquer situação ruim onde alguém desistiu você sempre encontrará alguém na mesma situação que continuou, portanto, uma das grandes sabedorias da vida é saber administrar os altos e baixos dela. O que eu quero dizer com isso é que você nunca será feliz o tempo todo, você nunca será alegre o tempo todo, você nunca terá a mesma forma física ou vigor o tempo inteiro, você nunca terá o seu pai, mãe, esposa ou esposo a vida toda. Isso é tão certo como a certeza de que um dia você irá morrer, portanto, é melhor você ir se acostumando e aprendendo a administrar os altos e baixos da vida.

Além disso, recomendo também que leiam um tópico antigo chamado “As desculpas mesmo quando verdadeiras não levam a nada”

domingo, 30 de janeiro de 2011

Dica de Leitura (1/10)

A partir de agora, estarei colocando no Blog da TSKF uma vez ao mês dicas de leituras de alguns livros que ajudam a crescer não só no ramo profissional, mas também no pessoal e, principalmente, no interpessoal. Sugestões são só sugestões, mas espero que sempre tenha um espaço vazio na xícara para colocar algo a mais.

(A sugestão dos livros foi dada pelo Mestre Gabriel)

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Livro 1

Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas

Dale Carnegie


Inicialmente se pergunte: O quão as pessoas à sua volta te respeitam? O quanto você já conseguiu conquistá-las?

Se de zero a dez, você puder se dar uma nota nove, aconselho urgentemente ler esse livro. Se for um dez, acho que é bom reler pela terceira ou quarta vez e ver se aprende técnicas novas desde a última vez que você o leu.

Muita gente acaba criando um certo preconceito pelo título do livro: “Ah, mas já tenho bastante amigos”, “Nossa, esse com certeza é só pra gente tímida se soltar” ou “Já sou bom o suficiente”. Adoraria encontrar pessoas para apostar que consegue ler esse livro sem aprender nada.

Com uma linguagem simples e inspiradora, cada capítulo mostra maneiras de conquistar pessoas, de manter relações estáveis e, talvez o mais importante, ensina como liderar um grupo, pessoa por pessoa, conquistando cada vez mais gente a pensar de seu modo. Não pense ser um simples manual de manipulação ou de lábia, afinal, a parte mais interessante é que a principal mudança que você faz não é pelo seu modo de agir perante outros, e sim de pensar em relação a você mesmo. Esteja preparado para quando lê-lo e decidir colocá-lo em prática, para engolir o orgulho, pensar muito bem antes de estourar e acima de tudo, entender como a pessoa que está a sua frente pensa, independente de seu próprio gosto ou vontade.

A cada capítulo que você lê, percebe como coisas tão óbvias passam tão despercebidas, e quanta gente insiste em dar murro em ponta de faca ao invés de contornar ou até mesmo evitar situações relativamente fáceis de serem evitadas. Há diversas histórias diferentes retratando casos ocorridos com pessoas que mesmo sem saber, cometiam deslizes que faziam a total diferença entre o sucesso e o fracasso.

Lembre-se que ler um livro é uma coisa extremamente simples, é preciso somente tempo e o mínimo de vontade para tal. Contudo, colocar o que tal livro passa requer uma força de vontade muito maior. Requer observação, encarar o próprio ego. Aconselho sim a tentar esse desafio. E este livro acaba sendo uma boa opção para começar a mudar de atitude. Sem dúvidas um livro que pode ser considerado um manual básico para qualquer um que possua uma profissão que lida diretamente com pessoas.

Boa sorte a todos, e que estejam sempre com a mente aberta para aprender cada vez mais.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Na Borda do Campo

Ontem creio que "abrimos" o calendário de comemorações dos 15 anos de TSKF com um evento bem especial. O pessoal da Vila Madalena (e também da Casa Verde e Ipiranga) fizeram uma visita ao nosso instrutor mais antigo em atividade hoje: o nosso caro Eros.

Todos os instrutores devem muito ao Eros. É ele que vem nos mostrando que é possível ser instrutor de Kung Fu e conciliar tudo isso com os vários papéis que temos além da academia: ser amigo, ser filho, ser marido ou esposa e no futuro, ser pai. Tudo isso sem deixar de fazer parte da TSKF.

Nas palavras do próprio Eros, ele passou todas as fases da vida dele, sempre com a TSKF no coração, fazendo o que gosta. Passou sua infância, pré-adolescência, adolescência e agora sua fase adulta treinando e ensinando Kung Fu. Que isso seja o exemplo de continuidade para todos nós.

Ao Eros e o Fernandão, que nos receberam muito bem, um enorme obrigado.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A frase

Todos nós temos dificuldades. Todos nós temos pontos nos quais não somos tão bons ou até mesmo abaixo da média. Isso é comum e é uma das coisas que nos torna humanos únicos.

A outra coisa que nos torna únicos neste mundo é a capacidade de decidir o que fazer com as coisas que não conseguimos. Um coelho jamais vai correr uma maratona. Mas vc e eu, se assim decidirmos, poderemos correr a maratona ou ainda vencer um coelho nos 100 metros rasos.

Tudo isso é possível graças à nossa mente, que não vê bloqueios e impossibilidades em sua forma natural. Mas ao mesmo tempo, ela é responsável por criar alguns bloqueios que resultam em uma das frases que eu mais odeio (forte este sentimento, neh?): "Eu não consigo".

Imagine que sua mente é uma entidade ligada à você, mas ao mesmo ela é independente de você. Agora complete isso com uma relação entre líder e liderado. Você será o líder da sua mente ou liderado por ela. Não há outra opção.

Parece complicado? E é! O que esperar de algo tão complexo quanto nossa mente?

Pois bem, sabendo disso, quando você fala "a frase", saiba que é sua mente liderando você, limitando sua capacidade de realização e mantendo-o em uma zona de conforto, onde não há desafio e nem realização. Tudo é conhecido e previsível.

Mas quando você diz algo diferente como "O que eu preciso fazer para conseguir isso?" você toma o controle da mente e imediatamente a coloca para trabalhar para responder a pergunta. Mentes odeiam perguntas sem respostas e trabalham quase que automaticamente para encontrar uma. "Eu não sei" tende a ser uma resposta comum que ela te dá, mas é uma resposta preguiçosa, uma armadilha para tentar roubar novamente o controle que você acabou de conquistar.

E é aí que você deve fazer a pergunta matadora para a mente e colocá-la totalmente sob suas ordens: "E o que devo fazer para saber o que é preciso"?

A mente então, encurralada, passa a trabalhar para solucionar a questão proposta e fazer com que seu líder possa realizar algo que não conseguia anteriormente.

Quando dizemos "a frase", não se trata de render-se frente à algo além da nossa capacidade. É apenas falta de coragem em tomar a decisão.

Para ilustrar este post, você sabe o que é um Kiwi? Não, não a fruta. O bicho. É este aqui.

Trata-se de um pássaro australiano que não tem asas, em resumo. E não consegue voar.

Minha esposa encontrou essa animação há um tempo atrás e creio que ela mostra perfeitamente o que quero dizer sobre superar "a frase".



E nós aqui dizendo que não conseguimos fazer isso ou aquilo...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Somos grandes, somos pequenos

Acho que todos na vida já chegaram a se acostumar algum dia a alguma atividade praticada faz tempo, seja o kung fu, ou outro esporte, o hábito de falar em público ou apresentações de escola. A questão é: por mais experientes que sejamos, sempre há alguma situação da qual ainda não nos defrontamos, e para isso temos que dar um passo muito grande (claro, preparando-se para que não seja maior que a perna).

Particularmente falando, nesse final de semana fiz meu exame de faixa, para a faixa preta. Independente de ter feito outros oito exames e muitos campeonatos, essa situação ainda me deixou numa ansiedade enorme, assim como nervosismo, insegurança e acima de tudo, motivação de ter um objetivo em mente, em que iria até o limite.

O engraçado é que durante o tempo em que me propus a fazer o exame até o dia do próprio, acabei conversando com muitos outros alunos e instrutores que já passaram por tal experiência, e dentro de muitos conselhos de treinos, também ouvi muitas histórias de exame, com alguns pontos em comum: “Aquele dia fiquei muito nervoso”, “Esteja preparado para tudo” e “Esse é a peneira que vai mostrar realmente sua qualidade de artista marcial”. Ouvi histórias engraçadas, e vi que até mesmo alguns de meus ídolos da academia também passaram por um grande nervosismo nessa mesma situação.

Esse tópico não é para dizer o que acontece no exame, ou um conselho sobre o que fazer para se preparar para ele, mas sim tocar num outro ponto que eu mesmo aprendi durante o exame: Independente do seu tempo de treino, da sua participação em eventos e competições e quanto você acha que está preparado para tudo, sempre há horizontes inexplorados. Você será sempre uma criança em aprendizagem. Por maior que pareça, há ainda situações em que você se verá pequeno.

Contudo, nesse mesmo exame, percebi uma outra coisa tão marcante quanto esse fato: Por menores que sejamos perante uma arte marcial tão vasta de desafios, ainda somos gigantes. Em alguns momentos do exame a força acaba, o fôlego pega e a perna treme, e nesses momentos você vê que está cercado de gigantes. Esses gigantes estão na forma de colegas de treinos, de instrutores e de um mestre, que torcem por você e te dão motivação e força para chegar mais longe do que foi há um minuto atrás.

Ser gigante não é só ser melhor do que era antes. Ser gigante também é fazer com que aqueles que estejam ao seu lado cresçam juntos com você, é dar a torcida e a força necessária para vencer qualquer obstáculo.

Acho que cada um pode ter uma experiência diferente nessas situações, o exame de preta foi só um exemplo. Podemos ver pessoas que percebem isso em outros exames, ainda mais cedo, ou no primeiro campeonato, ou até os mais avançados, quando vão para o exterior competir. Independente do caso, os desafios grandes estão aí para serem ultrapassados. Nada mais são do que um presente para você mesmo ter uma idéia de até aonde vai seu objetivo.

Para todos que têm objetivos esse ano: boa sorte, e dediquem-se de corpo, alma e mente para alcançá-lo, afinal, podemos ser pequenos perto de situações que ainda desconhecemos, porém somos gigantes no potencial para cumprir qualquer objetivo que tenhamos.

Vinícius Miranda

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Repeteco

Com as inscrições abertas para o nosso campeonato deste ano (e com atletas já inscritos!), pensei em escrever algo novo a respeito. Daí lembrei que o assunto já foi bem explorado aqui no blog e resolvi deixar três posts a respeito de campeonatos.

Se você ainda não leu, boa leitura! Se você já leu, recomendo uma releitura, sempre podemos ver as coisas em uma nova perspectiva!

Brazil International Kung Fu Championship

Qual a importância de participar de campeonatos?

Porque participar de campeonatos