segunda-feira, 9 de maio de 2016

É possível desviar de balas com o Kung Fu?



Há mais ou menos 3 semanas estava no final do treino quando um dos colegas de treino, na pureza de seus 9 anos, fez uma pergunta simples mas que faz a gente passar horas raciocinando sobre o tema: ‘Quando a gente chega na faixa preta, a gente consegue desviar de balas?’. A primeira reação dos que estavam no vestiário foi: ‘- Não, claro que não.’; - Isso é coisa de filme’; ‘Na vida real não é bem assim’, coisas deste tipo. Eu mesmo estava entre o coro. 

Mas esta pergunta ficou no subconsciente, clamando por uma resposta advinda de análise sobre suas raízes e consequências, não apenas uma reação enviesada pelo dia a dia fora do Kung Fu. Era preciso uma resposta pensada nos valores e costumes do Kung Fu

Após buscar os ensinamentos do Mestre Gabriel e Shifu Danillo, tanto em aulas, palestras e livros, cheguei à conclusão que com a correta aplicação dos ensinamentos do Kung Fu pode-se sim desviar de balas, na verdade até muito mais que isso como será dito nos próximos parágrafos. 

Uma das principais formas pela qual o Kung Fu te ajuda a desviar de balas é mostrar que você não deve estar neste tipo de situação a não ser que você queira. É isto mesmo: aprenda a antever situações de conflito que podem degradar rapidamente para uma algazarra generalizada e/ou para agressões físicas desnecessárias e simplesmente não esteja lá, não seja parte da confusão ativa, nem seja pego de surpresa por ela. 

Isto pode ser exemplificado em duas situações de nossa academia: em uma de suas aulas na TSKF Barro Preto, Shifu Danillo, foi questionado por um aluno o que poderia fazer se tinha acabado o espaço para concluir uma forma. Sua resposta foi explícita para o problema que estamos analisando: o problema de acabar o espaço para a forma não apareceu no último movimento, mas sim nos primeiros passos, na falta de planejamento do espaço tempo necessários para concluir a forma. Em outro momento, quando da festa de inauguração da TSKF Padre Eustáquio, Mestre Gabriel congratulou os Instrutores que fizeram diversas demonstrações em um espaço menor que o habitual, dizendo que estes ‘(...) demonstram o verdadeiro Kung Fu, por saber adaptar-se às situações reais, não ficarem ancorados numa forma purista requisitante de espaço, não se prenderem à limitação deste espaço (...)’.

Isto não quer dizer que para se desviar de balas devemos sempre fugir de conflitos, quaisquer que sejam. Mas é não se envolver em conflitos desnecessários, nada construtivos. Procure dar sua opinião de forma fundamentada sobre um tema – estude antes de falar/escrever, procure a origem do tema/conflito antes de defender uma bandeira, defenda sua posição quando seus valores são ameaçados. Mestre Gabriel nos ensina diariamente que expressar suas opiniões, mesmo que contrárias à maioria e/ou desafiadoras, também é uma forma de praticar o Kung Fu, de ensinar, de não estar em cima do muro, mas de uma forma que gere construção. Shifu Danillo nos apresenta uma postura questionadora em diversos temas, não impondo seu modo de pensar mas nos apresentando novos prismas de vários assuntos, permitindo que exercitemos o pensamento e raciocínio lógico. 

As situações de ‘bala vindo em seu caminho’ podem ser várias: de fato uma situação de arma de fogo; um grande problema que ameaça sua vida profissional; uma grande ameaça à Academia; uma grave doença etc. Algumas delas, por mais que nos esforcemos para evitar, podem vir em nossa direção. Então, o que fazer neste caso? 

Ao final, por meio da dedicação às aulas, envolvimento com a academia, estudos, participação de eventos, o aluno vai evoluindo prática e teoria do Kung Fu, aprendendo que estar numa situação de ‘frente a bala’ e o que fazer neste caso, depende dele, de sua postura e de suas ações, respeitando e honrando seu mestre e Shifus. 

São ensinamentos simples, passados através do convívio, aulas, livros, artigos e posts que identificamos fatores chaves para saber como agir nestas situações para que a ‘bala’ não te pegue de surpresa: planejamento, envolvimento, adaptabilidade, evolução, temperança, ação. Mestre Gabriel repete bastante uma adaptação da frase de Napoleon Hill: ‘Tudo o que a mente humana pode conceber, ela pode conquistar’, ou nas palavras do Mestre ‘Nada acontece sem que antes tenha sido concebido na mente’. 

Para resolver as situações de ‘bala vindo em seu caminho’ é necessário planejamento, envolvimento, emoção e ação. Com estes quatro ingredientes é possível resolver os problemas e as situações mais ameaçadoras ou complicadas que nos aparecem no dia a dia. Não adianta desespero ou desânimo. É preciso encarar o problema de frente, entender o que precisa ser feito, quem pode te ajudar e, após a resposta ter sido concebida, partir para ação! Quando se internaliza estas lições, chega-se à conclusão que é possível sim antever problemas e desviar de balas; pode ser que ela passe raspando, mas dificilmente uma situação te pegará desprevenido ou te deixará inerte novamente. 

Herick Morais
Aluno TSKF Barro Preto


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