segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Meu grande aprendizado com o Bei Shaolin*

Fechamos mais um ciclo de cursos e palestras com o Shifu Nelson Ferreira. Durante as últimas semanas, tivemos acesso à inúmeros conhecimentos sobre Dança do Leão e Etiqueta Marcial. Além disso, tivemos a oportunidade de aprender duas formas do sistema que o Shifu Nelson ensina em sua escola, a Zhong Yi Kung Fu Association: a forma Chuan Xin (para o pessoal de SP) e a forma Duan Da (para o pessoal de BH).

Antes de tudo, é fundamental agradecer ao Mestre Gabriel, que viabilizou mais uma visita do Shifu Nelson ao Brasil. É importante, não apenas para a TSKF, mas também para toda a comunidade de Kung Fu do Brasil, saber que contamos com toda uma geração de mestres não-orientais que possuem um vasto conhecimento sobre as tradições do Kung Fu, costumes, disciplinas, regras, enfim, tudo o que é preciso para se treinar o Kung Fu Tradicional adequadamente. E, cada um do nós, como praticantes, temos que dar o devido valor e respeito à este grupo de Mestres, onde um exemplo fabuloso é o Shifu Nelson.

É claro que devemos agradecê-lo por dispor de seu tempo para estar conosco durante alguns dias aqui no Brasil e compartilhar um conhecimento valiosíssimo com os alunos da TSKF. Este post é sobre agradecer, mas faço isso contando uma das lições mais valiosas que pude aprender com ele.

Não, não é uma técnica de Bei Shaolin*. Não, não é algum conhecimento cultural chinês que me fará mais conhecedor da arte que pratico. Trata-se de algo igualmente útil e importante: como eu posso melhorar no tratamento de meus alunos e clientes.

Eu já tinha observado uma característica da comunicação do Shifu Nelson da primeira vez que eu fiz o curso do Duan Da e passei, aos poucos, a praticar e entender a mesma coisa. 

É extremamente raro, escutá-lo dizer a expressão: "deu pra entender?" ou a variação usada, ao final de explicações: "deu pra entender agora?", quando explica alguma técnica ou qualquer aspecto de algo que está ensinando. No lugar ele usa, comumente, duas outras coisas: "Consegui explicar?" ou "Fez sentido?".

Pode parecer estranho, mas ao usar o primeiro grupo de expressões, o aluno é que tem a carga e a responsabilidade de entender  o conhecimento que é passado. Ora, não é estranho dar a responsabilidade sobre um conhecimento para quem ainda está aprendendo tal conhecimento?

Pois é, para mim não faz muito sentido.

Quando se usa o segundo grupo de expressões, é o Shifu/Professor que tem a carga e a responsabilidade de tornar o conhecimento acessível ao aluno. Se é o professor que tem o conhecimento, é ele que vai saber como abordar, explicar, detalhar e sintetizar um conhecimento, de forma que o aluno possa entender.

Para mim fez muito mais sentido.

Desde então, eu tenho usado o segundo grupo de expressões em minhas aulas e isso provoca algumas caras engraçadas nos alunos, vez ou outra. Se eu sou o instrutor, eu tenho que me desdobrar em tornar o conhecimento acessível para cada aluno.

Esse é o meu trabalho. E graças ao Mestre Gabriel e ao Shifu Nelson, eu descobri uma forma melhor de fazer este trabalho.


*Bei Shaolin ou Shaolin do Norte é o estilo de Kung Fu ensinado pelo Shifu Nelson. Ele vem de uma linhagem distinta da linhagem praticada atualmente em grande parte do Brasil.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Harmonia da Dissonância

A respeito deste post, gostaríamos de agradecer a contribuição da Fabiana Guimarães, que nos sugeriu desenvolver este texto, nos comentários de nosso último vídeo com o Mestre Gabriel que você pode ver aqui.

Harmonia, entre várias definições, pode ser explicada como "disposição afim ou equilibrada entre as partes de um todo". Imaginemos uma pessoa que trabalha 08 horas por dia, dorme 07 horas por dia. Gasta uma hora nas grandes refeições e mais uma hora de deslocamento entre trabalho e casa. Sobram 4 horas nesta conta. Digamos que duas ela passa treinando Kung Fu na TSKF (ou fazendo outra atividade física). As duas últimas horas são livres para estudar, namorar, ver TV, acessar a internet para se divertir, ou qualquer outra coisa.

Poderíamos dizer que o dia deste exemplo está equilibrado, em harmonia. Claro que é um exemplo bem genérico e poderíamos citar mais uma infinidade deles. Mas vamos tomar este como base, sim?

Entretanto, para as pessoas que desejam se tornar, ou já são, líderes, não é assim que a "banda toca". O líder usa um balanceamento de tempo totalmente diferente de uma pessoa normal. E está feliz com isso.

Turnos de trabalho de 14 horas, ou até mais. Seis horas de sono às vezes, ou até menos. Uma hora para refeição? Se for um almoço de negócios, tudo bem. Mas se for um almoço corriqueiro, é comer e voltar, quando não almoça trabalhando.

Parece pesado? Se você acha que sim, vamos observar um pouco melhor.

Existem pessoas que desejam muito realizar algo. Desejam muito viver realizando um trabalho que signifique algo para o mundo e para si, onde o dinheiro é importante, mas não é o mais importante e muito menos a causa principal da pessoa ter escolhido realizar este algo. Este algo é tão importante e tão significativo, que ela gostaria de fazer isso para sempre.

Antes de você achar que estou criando uma situação quase irreal, peço que se lembre de todas as mulheres que sempre sonharam, e conseguiram, se tornar mães em tempo integral. Abriram mão de muita coisa para cuidar dos filhos. Veja se não encaixa direitinho com o que descrevi no parágrafo acima.

Voltando agora para o campo profissional (apesar de que ser mãe em tempo integral é uma profissão também!), vamos encontrar situações semelhantes. Muito trabalho, muita dedicação e, especialmente, a renúncia. A renúncia aos pequenos prazeres que as pessoas "normais" costumam ter: emendar feriado, um final de semana inteirinho só para...não fazer nada, férias de 30 dias, e coisas similares. O líder faz esta renúncia em nome do algo maior que decidiu realizar, seja lá o que for.

Na TSKF, é o que o Mestre Gabriel espera de seus sócios. Mas se engana muito quem pensa que isso será sua rotina por toda a vida. Tudo é uma fase, um momento a ser vivido. Um sócio não deve trabalhar 16 horas por dia na academia mas, se isso for o necessário para chegar onde se deseja, ele o fará de bom grado e sem enxergar isso como um problema, ou como "pesado". Será apenas mais uma etapa a ser vencida para se chegar no objetivo.

Cito aqui um exemplo pessoal do Mestre. O Mestre Gabriel gosta de acordar tarde. Mas ele acordou cedo o tempo necessário para chegar mais perto de onde deseja, durante anos. Hoje em dia, ele ainda acorda cedo, em duas ocasiões regulares: mensalmente, aos sábados, para pegar o avião e vir para o exame na TSKF Barro Preto. A outra situação é semanal, quando ele acorda cedo para ministrar as aulas de domingo de sócios e instrutores na TSKF Matriz.

Eu poderia apontar duas ou três pessoas que poderiam substituir o Mestre aos domingos nas aulas, liberando-o para chegar mais tarde. Mesmo assim, o Mestre está lá cedinho, fazendo uso da liderança pelo exemplo. Ele mantém sua renúncia a respeito de algo que ele deseja, para poder realizar algo maior que si mesmo.

Para concluir, vamos pensar em outro exemplo.

Imagine que uma pessoa vai subir um andar num prédio qualquer. Ela usa as escadas rolantes. Sem esforço, imóvel, em harmonia com o sistema, ela chega no andar desejado. Ela segue o fluxo do sistema normalmente usado pela maioria das pessoas.

Ao lado desta escada rolante, há uma escada física. Outra pessoa toma esta escada, em dissonância com o que seria mais fácil (tomar a escada rolante).

Qual destas pessoas evoluiu fisicamente, num simples subir de escadas?

E mais: para subir a escada fixa, a pessoa teve que erguer um pé e direcionar seu peso para frente, ficando momentaneamente desequilibrada, para logo depois posicionar seu pé no novo degrau e erguer o corpo, repetindo o processo em cada degrau.

Assim, pergunto: para subir uma escada fixa, o que é mais importante: o equilíbrio ou o desequilíbrio?

Depende. Como você quer ser lembrado, quando deixar este mundo?

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O que você deveria saber para treinar Kung Fu (por muito tempo)

Treinar Kung Fu é assumir um compromisso com você mesmo. É se comprometer com sua saúde, com sua evolução física e mental. "E quando termina?" perguntam muitas pessoas. O término do compromisso que você assume com você mesmo acontece quando se pára de treinar.

Mas, se você mantém este compromisso com você, há algo que termina antes: o aprendizado do estilo que você escolheu. Toda boa escola tem um currículo claro, que não é infinito. Ele pode ser pequeno ou grande, mas sempre tem uma conclusão.

Se você deseja treinar Kung Fu, e ter a possibilidade de terminar o aprendizado de todo o seu estilo, este post é para você.

E o ponto interessante: mesmo que você não more na Grande São Paulo ou na Grande Belo Horizonte, portanto sem acesso direto à uma TSKF, este post também é para você!

Convidamos o Mestre Gabriel para dividir um pouco da sua experiência de mais de 30 anos de Kung Fu, e nos contar algumas situações que as pessoas podem evitar, se quiserem treinar Kung Fu por muito tempo e se formar no estilo que treinam.

É claro que exceções podem existir, mas vale a pena escutar as dicas de quem já passou pelo processo e segue treinando Kung Fu após tantos anos!


Se você achou o conteúdo deste vídeo útil, fique à vontade para compartilhá-lo nas suas redes sociais e você também pode comentar o que achou dele mais abaixo. Será um prazer ler o que você tem para dizer!

Ah sim! Se você der uma olhada no topo desta página, verá que temos um brinde para você: receba gratuitamente em seu e-mail nosso ebook sobre o Wu De (Ética Marcial), segundo a visão da TSKF. Para quem quer saber mais sobre o Kung Fu, é uma leitura valiosa!

domingo, 13 de outubro de 2013

Quem ri por ultimo

Neste post, pedirei licença ao Kung Fu e falarei para você sobre uma história do Boxe ocidental.

Estamos no ano de 1974, no Zaire (atual Congo). Dois dos maiores boxeadores da história vão se enfrentar: Mohammad Ali vs. George Foreman, valendo pelo título dos pesos pesados.

Creio que os dois nomes são conhecidos por todos. Ali, o jovem promissor, bonitão e de língua afiada, que dizia coisas como "sou tão mal que deixo o remédio doente", ou "tão rápido que prendi um raio". A máxima expressão da energia e jovialidade. A mídia o adorava.

George Foreman
Do outro lado, temos Foreman: silencioso, canhoto, guarda estranha e um estilo reservado. E ele não era bonito como Ali...como não posicioná-lo como o "vilão a ser batido"?

E ele foi batido. Ali o venceu em uma luta que rende discussões até hoje...O juiz foi comprado? A contagem não foi mais rápida que o normal?

Mas este post não fala sobre isso...

Anos se passaram. O tempo se encarregou de aposentar Ali e colocá-lo como lenda desta época, ao lado de outro famoso chamado Bruce Lee.

Já George foi ao ostracismo. Peso extra, magoado, ferido e aposentado pela mídia, aceitou esta condição que a Vida lhe entregou. Até que o espírito de luta que sobrevivera dentro dele se curou das feridas, acumulou novas cicatrizes e decidiu fazer George voltar à ativa.

George Foreman resolveu lutar novamente e buscar de volta o título que ele julgava ser seu.

"Muito velho", eles disseram. "Não tem como recuperar a forma antiga", estas foram algumas das coisas que ele ouviu ao tomar a decisão. Mas seu espírito de lutador já estava em forma novamente. Portanto, se um direto de Mohammad Ali não o tinha deixado imóvel, por que as palavras de quem nunca foi campeão o afetariam?

Foreman passou a fazer o que era preciso, mesmo sabendo que isso exigiria uma força de vontade descomunal, dados os maus hábitos que ele desenvolvera. E o teste não tardou a acontecer.

O treino de corrida é muito importante para o preparo físico de um lutador de boxe. Se uma pessoa diz que quer "boxear" no ringue, mas não corre 10km ao menos três vezes por semana, ela não quer lutar. Ela pensa que quer lutar. As artes marciais e de lutas estão disponíveis para todos, por outro lado, de acordo com a disponibilidade de tempo e realidade de cada um. Basta saber a escola/academia adequada para o que você busca. Mas vamos voltar à nossa história.

George retomou seus treinos de corrida. Mas ele não era capaz de correr em volta do quarteirão. O peso e a idade o estavam esmagando. Então ele andou em volta do quarteirão. E ficou sem ar...Um vizinho achou melhor ele desistir, mas o vizinho não queria ser campeão de boxe novamente. George continuou andando.

E depois correndo vagarosamente. E depois correndo e andando. E depois correndo algumas voltas rápidas e outras lentas. Isso evoluiu até que a velha forma de George Foreman estava de volta. Claro que ao lado deste desafio ele teve muitos outros, envolvendo a retomada das técnicas de boxe, contatos comerciais, etc.

Assim George retomou sua vida no Boxe e conseguiu se tornar o campeão de boxe mais velho da história, aos 45 anos, uma idade em que muitos esportistas se aposentam.

Além disso, George Foreman desenvolveu outra qualidade: visão para negócios. Quem nunca viu uma propaganda do George Foreman Grill, que prepara os alimentos eliminando boa parte da gordura?

Aqui vemos um aspecto interessante: Foreman se preocupou em olhar o futuro. Ele sabia que a glória de ser novamente o campeão mundial do boxe não duraria para sempre, mas ele ainda teria muitos anos de vida, como vivê-los?

Ele decidiu viver estes anos tambémcomo empresário, associando seu nome à toda uma linha de produtos que vão lhe gerar a receita financeira necessária para viver bem até o fim dos seus dias. Ele soube escolher também um parceiro organizado, trabalhador e inovativo, que foi Leon Dreimann.

Não é o talento que define se você terá sucesso. É a soma de talento, esforço e inteligência (natural ou desenvolvida).

Para mim, nunca verei outro boxeador tão genial quanto George Foreman. Mohammad Ali foi grandioso. Frazier foi um ícone. Mas Foreman se tornou meu preferido porque ele entendeu que a luta não se limita ao ringue. A verdadeira luta começa quando nascemos e termina quando o gongo final soar, no fechar definitivo de nossos olhos.

E você? Como andam as suas lutas? Vai buscar a vitória que merece por nocaute ou ficar torcendo para que os pontos o favoreçam?