terça-feira, 23 de agosto de 2011

Calejamento




Revolvi hoje abordar a prática do calejamento. Antes de iniciar devemos entender um pouco mais sobre as estruturas do nosso esqueleto, do que ele é formado e quais suas transformações ao longo da vida.
Muita gente ainda acha que nossos ossos são um tecido morto, um maciço de cálcio que nos acompanha do nascimento até a morte. Na verdade, o esqueleto, assim como os outros órgãos, possui vascularização e enervação, ou seja, é irrigado por sangue e repleto de nervos. Ora, agora podemos entender porque dói tanto quebrar um osso.
Por ser um tecido vivo que constantemente sofre modificações, é na alimentação que obtemos minerais suficientes para supri-lo. A todo o momento células ósseas morrem, e outras são construídas em seu lugar.
Nos ossos longos de corpo (por exemplo, os ossos do braço, ante-braço, coxa e perna) existem membranas que são responsáveis pela construção dessas novas células. O endósteo, que reveste o osso por dentro da cavidade medular, e o periósteo, que reveste o osso na parte externa.
No estudo da anatomia e fisiologia, costuma-se dizer que nosso corpo tem capacidade morfofuncional (morfo = forma; funcional = função;). Isso indica que as partes de nosso corpo adaptam suas formas de acordo com a função desempenhada. Para entender melhor é só analisar a diferença do tamanho dos osso da coxa e perna, com os osso do braço e ante-braço. Os primeiros são maiores e mais rígidos, pois a todo momento precisam suportar uma carga de peso bem maior que as do membro superior.
Quando realizamos um calejamento, batendo um membro ao outro, ou um objeto ao membro, estamos alterando a função daquele osso específico, pois não estava em sua função original suportar um golpe com tal direção e força com naturalidade. Quando isso acontece, certamente, pelo estudo da morfofuncionalidade, a forma do osso irá se adaptar à nova demanda. Podemos observar que depois do calejamento, a parte golpeada apresenta uma proeminência macia e dolorida, algumas vezes de cor arroxeada (hematoma).
Por que isso acontece? Simples. O golpe aplicado danifica o periósteo (revestimento do osso) e outros tecidos adjacentes daquela região, causando uma pequena inflamação regada a um líquido altamente osteogênico (que tem a capacidade de mineralizar e originar tecido ósseo). Por isso que logo depois do calejamento sentimos a tal proeminência macia.
Com o tempo, este líquido promoverá além da cicatrização do periósteo, uma calcificação local na proeminência gerada pelo golpe. Agora a parte anteriormente calejada, está preparada para novos golpes no futuro.
Porém este “calo” construído não é vascularizado assim como é a formação original do osso, por isso depois de um tempo ele desaparece, caso não seja re-estimulado.
O difícil é saber a força exata a ser aplicada no calejamento, pois intensidade em excesso pode machucar o tecido além do esperado, e a inflamação pode ficar séria. Uma grande inflamação, além de não criar a proeminência típica do calejamento, exige muito de nosso sistema imunológico, nos deixando suscetíveis à outras debilidades.


Sandro Conte Febras

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Mestre Gabriel um exemplo a ser seguido

Tenho testemunhado muitos acontecimentos durante esses 15 anos de TSKF. Considero-me um sortudo por ter como tutor o Mestre Gabriel. Nesses 15 anos ouvi muitas histórias que ele nos contava no final da aula, no meio da ginástica ou em algum evento (mais um motivo para vocês não perderem eventos da TSKF). Hoje em dia sei que o Mestre nos ensinava através daquelas histórias. Sei disso porque vejo grandes palestrantes discursando exatamente como o Mestre fazia. Não digo exatamente, pois, você nunca verá alguém contando as mesmas histórias e do mesmo modo, simplesmente porque as pessoas passam por experiências diferentes. Muitas vezes as mensagens são as mesmas (dizem que a “verdade” é universal), mas contadas de formas diferentes. A essas experiências o Mestre dá o nome de conhecimento de causa. E eu adorava ouvi-lo! Gostava tanto que lembro até hoje da maioria delas e procuro passar de vez em quando para os alunos do Tucuruvi onde dou aula atualmente. Notava que na época em que treinava como aluno alguns amigos meus de treino não gostavam quando o Mestre discursava e lhe torciam o bico. Hoje percebo que eles torciam o bico, porque doía no interior deles ouvir algumas verdades e eles preferiam desistir da academia a ter que enfrentar suas próprias mazelas. Em mim também doía, mas eu sempre pensava (e ainda penso) que era para o meu crescimento pessoal.

Mas eu só comecei a desenvolver mesmo no Kung Fu e nas outras áreas da vida quando eu passei a escutar o Mestre. Mas como assim? Ouvir e escutar não são a mesma coisa? Definitivamente não. Ouvir qualquer um ouve desde que seu ouvido esteja funcionando perfeitamente. Mas escutar é diferente. Escutar é quando você ouve, reflete e aplica, ou seja, você entende (ou procura entender) o que ouviu e age de acordo. Você pode ouvir três pessoas contando histórias diferentes e ao mesmo tempo, mas não passará disso, pois nunca compreenderá nenhuma das três. Em suma quando você escuta você presta atenção e quando ouve apenas ouve.

Até hoje eu aprendo com nosso Mestre e terei muito a aprender, pois ele segue desbravando o “caminho das pedras” para todos nós. Comecei esse texto me considerando um sortudo. Então, mudarei dizendo que todos nós devemos nos considerar sortudos, pois, temos um Mestre como exemplo, que tem a capacidade de nos transmitir seus conhecimentos e que não para de galgar os patamares mais altos da excelência a fim de se aperfeiçoar e continuar nos ensinando. Entenderam agora porque sou tão grato ao Mestre Gabriel?

Mas atenção!!! Essa é apenas uma das formas que o Mestre utiliza para ensinar. Há muitas outras maneiras que ele usa para nos mostrar o caminho para o sucesso. Não me pergunte todas elas, porque assim como vocês eu também estou aprendendo.

De vez em quando, compartilharei neste blog com todos vocês algumas histórias contadas pelo Mestre Gabriel e tentarei ser fiel quanto à exatidão de detalhes dentro da capacidade da minha memória (não que eu seja velho, claro). Compartilharei também com vocês minhas próprias histórias, pois pode ser que alguns de vocês estejam passando pelas mesmas dificuldades que tive ao longo desses anos e possa ser útil de alguma forma.

Para encerrar direi agora o que o Mestre Gabriel sempre nos alertou. Ele dizia assim “Não acredite em mim, pois ninguém é o dono da verdade. O que lhe servir guarde para si e o que não servir jogue fora”.

Mas por favor, primeiro ESCUTE a mensagem, depois REFLITA e caso a carapuça não lhe sirva, então você pode descartá-la.

Essas histórias são pérolas e como toda pérola deve ser bem guardada e apreciada.

Desejo do fundo do coração que elas o toquem tão profundamente quanto fez comigo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Forja

Então, meu caro, vamos repassar o tratamento dos metais para forjarmos as espadas dos clientes:

Você pode usar dois tipos de fogo para tratar o metal, o mais forte e o mais brando. Claro que forte ou brando depende de cada um. No meu caso, tenho mais de 30 anos nesta profissão, meus dedos são chamuscados e a pele, grossa pelos longos dias de trabalho. Meu fogo forte pode não ser o mesmo do seu, ainda não habituado com as horas extras do final de semana, quando cortamos a lenha para preparar nossos estoque que serão usados ao longo da semana. Mas não se preocupe com isso...apenas faça o melhor que puder, tenho certeza que você se sairá muito bem e tenho certeza que irá evoluir com o tempo. Essa confiança no seu crescimento em direcão ao seu sonho é que me permite aceitá-lo como meu aprendiz.

Voltando à questão dos metais: usar o fogo forte permitirá ganhar tempo e moldar metais mais difíceis e resistentes à mudança. Mas nem tudo é simples: o fogo muito forte para o metal errado fará com que o metal se perca e não sirva mais para ser usado nem para fazer um garfo. Por isso, tempo e treino o tornarão apto a identificar quando usar o fogo forte no metal certo.

Agora, ao fogo brando. Alguns metais são mais frágeis. Outros metais são muito fortes, mas têm o seu próprio tempo de desenvolvimento no fogo para se tornarem maleáveis para o que queremos. Nestes casos, devemos usar o fogo brando por um longo período de tempo. Paciência e esforço contínuo em alimentar o fogo na medida certa é o que deve ser feito para se obter uma lâmina bela e afiada.

Não caia no engodo de acreditar que apenas as armas forjadas pelo fogo forte é que são as melhores. Eventualmente, um punhal bem feito pode ser muito mais decisivo que um sabre.

Com isso, podemos ver que na nossa profissão, não basta ter um braço forte, mas saber identificar e perceber como o metal pode ser moldado, de acordo com a expectativa de seu cliente.

Fogo e metal são nossos ingredientes diretos. Nossa vontade e dedicação também entrariam na receita, mas se eu precisasse te dizer que essas duas coisas devem entrar, significaria que você ainda não está pronto para ser aprendiz.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ohana

Vendo algumas discussões na internet nestes últimos dias, lembrei deste trecho do desenho Lilo e Stitch da Disney. O trecho mais importante do vídeo abaixo diz que "Ohana significa 'família', 'família' significa que ninguém é deixado para trás".


Ao longo destes 15 anos, construímos a TSKF sempre pensando em uma família e este pequeno vídeo reflete bem isso. Para o lado bom e para o lado mau.

O que quero dizer com lado mau? Simples. A família não deixa ninguém para trás, mas um integrante da família pode decidir ficar para trás. E este livre arbítrio vem acima da própria família, já que estamos falando de uma família onde as pessoas DECIDEM fazer parte, não "apenas" nascem nela.

Mas mesmo o lado mau tem um lado bom: esta família raramente vira suas costas para alguém que decida abraçá-la uma vez mais no futuro, a qualquer tempo.

Afinal, ninguém é deixado para trás.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Danillo Cocenzo: Árbitro Internacional

Nosso Mestre Gabriel nos enviou um e-mail, da qual recebi com muita alegria e estou compartilhando com todos vocês através deste blog.

Nosso querido instrutor Danillo Cocenzo se graduou como árbitro internacional no campeonato de Baltimore.

Não contente com isso ele se graduou como o melhor da turma.

Não contente com isso ele ainda arbitrou várias lutas, inclusive de semi contato.

Não contente com isso ele ainda foi chefe de área de formas e segundo o Mestre debulhou seu inglês.

Aproveito para parabenizá-lo e dizer que esta conquista foi mais do que merecida. O Danillo é um dos instrutores que mais vem contribuindo para o crescimento da TSKF. Para quem não sabe ele é meu instrutor no curso de arbitragem de Lei Tai da qual ministra na Matriz. Esse curso está colocando a TSKF cada vez mais no top em relação ao desenvolvimento da arbitragem de Kuoshu no Brasil.

E agora que nosso instrutor se graduou como árbitro internacional com certeza trará mais novidades e experiências vividas em Baltimore para compartilhar conosco.

Grande Danillo Cocenzo!

Parabéns!!!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

The Hallway

Since I'm still in Washington I decided to write this post in english...Ok, not a very good english, but at least one you could say ok. To my student Paula Sporleder I leave the right to correct anything she wants, just like when I correct her in her moves. =)

When we arrived in Baltimore on Sunday (24), I started to check all the hotel because my Referee Course was going to begin in the next day and I tought that will be a good idea to know where to go during the week. Then I found the same Hallway, showed below.



When I first came here in 2008 I did my last fight for TSKF on the Lei Tai, and this hallway was the access to the Preparation Area and to the Main Ballroom, where the fights occur. I cannot deny that I was scared that time and that's was one of my motivation to fight: control the fear. Even when it's mean to fight in another country, in the house of Kuo Shu.

Well, I got some injury on the neck during the first 30 seconds, but with Shifu Nelson's support I was able to put myself together and, despite of the loss in round 1, I won the match, beating up my opponent (from our friends of Yee's Hung Ga) on the rounds 2 and 3.

Three years later here I was: again in the same hallway, dealing with my fears again. These time against heavier opponent: be alone with my english, be at the Referee Course, take practical and theorical exams. This last one means written exam, with dissertative questions and about 3 hours and a half to finish it.

Step by step I started to make my way through the week and I could show my previous experience as referee and it helps a lot. Made some new friends, worked as teammate with awesome guys from New Zeland, U.S. adn Switzerland. At Friday night my new friend Angie Dominguez alerts me that the results are already avaliable, and from the Shifu Rob Simpson's hands I received my results and discovered that now I'm International Referee B.

If I stop here anyone could say that's a happy end. But in Saturday, Kimba, another friend and Shifu Nelson's student, said to me that Shifu Simpson wants to talk with me. Sure that will be bad news.

Nothing against my test results, just the opposite: Shifu Simpson said something like: "Danillo, should be interesting to test you on the Lei Tai tonight, during the elimination rounds. Be here when we start the match number 34. You will go up in the match number 37 and will leave after the match 38. Do you understand?"

"No problem, Shifu. Tou ^%dido mas no problem..." I said. With a smile, of course.

We were in the match number 28 and I got some time. I left the Main Ballroom and, once again I was looking to the same hallway, full of fighters and coaches. But this time, the hallway looks different: I feel no fear this time. I was a fighter and already was referee in Brazil. That hallway and me just finished our business this year and I won. Now it was just a hallway, filled with my memories.

With this, I started the time of giving back to a tournament who did so much for me.