Economia é um dos temas
mais discutidos atualmente, principalmente em épocas quando as pessoas se
sentem sem recursos. Mas ao invés de falar do PIB do país e da taxa de
juros vamos falar sobre economia no sentido mais simples da palavra: poupar.
Para se conseguir algo temos que pagar um preço, na nossa sociedade esse preço é geralmente traduzido em dinheiro. Assim se queremos ter
algo a mais temos que gastar de acordo.
Todos sabem que tudo tem
um preço e por isso quando queremos alguma coisa começamos a pensar em modos de
obter o objeto de desejo. No primeiro momento a conta é simples: "o que eu
quero custa X, logo vou economizar 1/2 X e em dois meses posso obter o que eu
quero". Mas se é tão
simples por que ficamos atolados de dívidas ou então compramos a opção mais
barata?
A verdade é que
geralmente fazemos a "economia inútil". Esse tipo de economia é
quando poupamos o que é necessário para poder gastar com o desnecessário. Isso
geralmente ocorre quando não entendemos o que está realmente em jogo ao poupar.
Imagine uma pessoa que diz que tem que economizar, pois está sem dinheiro. Você
a escuta falando sobre deixar de fazer um curso, de fazer algum esporte ou até
mesmo deixar de fazer uma atividade que no futuro pode lhe proporcionar mais dinheiro, uma faculdade, por exemplo. Porém você percebe que essa pessoa não parou de comer fora, sair em
todos os finais de semana e fazer viagens em cada feriado do ano. Rapidamente
percebemos que essa pessoa não tem dinheiro para uma determinada coisa e tem
dinheiro para outras. O problema não é a
falta de recursos, mas sim a falta de prioridades.
Já falamos que tudo tem
um preço, mas o preço não
pode ser medido só em dinheiro, há vários
outros fatores envolvidos. O preço das coisas é medido pelo sacrifício. Poupar é sacrificar algo que
você tem para obter algo que você ainda não possui. Assim se queremos um carro,
por exemplo, precisamos nos sacrificar. O primeiro sacrifício é o
trabalho, com ele teremos recursos para viver. Porém este sacrifício não conta,
pois temos que realizá-lo de qualquer forma. O que realmente nos fará obter o
carro é o sacrifício de deixar de fazer
coisas que não são essenciais para que
no longo prazo possamos realizar nosso objetivo. O difícil em poupar é que
as coisas mais triviais são aquelas que mais gostamos.
A "economia inútil"
ocorre principalmente quando não
compreendemos o processo das atividades que fazemos. Se uma pessoa quer ter um
desempenho excelente nos estudos ela deve ler e fazer exercícios sobre os temas
estudados. Mas esse não é o único fator envolvido. É importante estar com o corpo
saudável, afinal o cérebro, uma parte do corpo, funciona melhor se o conjunto
de órgãos estiver em harmonia. Assim,
atividades que não estão diretamente relacionadas com o estudo são essenciais
para ter êxito nele. Logo essa pessoa que quer se aprofundar no conhecimento
tem que entender que separar um tempo para o exercício físico, a boa alimentação
e períodos de lazer são essenciais para se alcançar a excelência.
A “economia inútil”
também acontece com empresários, principalmente os mais novatos. Quando se abre
uma empresa o esperado é que ela dê prejuízo
nos primeiros meses. Muitos empresários se preparam bem para essa fase de vacas
magras, calculando quanto eles precisarão ter de reserva até que o negócio dê
algum lucro. Porém muitas empresas fazem a "economia inútil" na hora
de executar seus serviços nessa fase inicial. Imagine uma padaria que
acabou de abrir. Seus donos estão muito preocupados com os gastos iniciais e
por isso eles compram ingredientes de segunda categoria para fazer seus pães e bolos. Além disso, eles irão diminuir a iluminação da padaria nos períodos diurnos
para evitar gastos. Outra tática será pagar minimamente os funcionários.
Se entendermos o ato de
economizar de maneira simplista diremos que esses donos estão certíssimos. Mas se analisarmos os atos da padaria veremos que eles estão cometendo
graves erros. Uma padaria tem que ter os melhores pães e bolos, bem como os
melhores salgados e doces para criar fama de ser uma boa padaria. Assim se logo
no inicio da atividade da empresa seus clientes não se impressionam com a
qualidade de seus produtos ela não será um diferencial e logo a clientela
escolherá outros meios de saciar a fome. Também temos que considerar que a
iluminação do ambiente é essencial para estimular o cliente. Uma má iluminação não suscitará fome e muito menos vontade de permanecer naquele
estabelecimento. E acima de tudo, se os funcionários estiverem desestimulados
tanto pela baixa remuneração,
quanto pela falta de perspectiva profissional, eles trabalharão o mínimo possível acarretando em um
péssimo serviço. Toda
a "economia" que os donos do negócio fizeram desembocará em falência pelo simples fato deles não terem executado a
prestação de serviços de forma excelente.
A "economia
inútil" também acontece com praticantes de artes marciais. Alguns alunos
tem a mentalidade de se poupar no início da aula, principalmente na parte
física, para chegar ao final da aula bem o bastante para executarem as técnicas
com perfeição. Esse raciocínio parece
muito bem pensado. Porém ele só
causa um atraso no desenvolvimento do artista marcial. Nas aulas de Kung Fu o
aluno deve dar o máximo de si em todos os momentos, ele deve se
"acabar" na aula, deve suar e se esgotar ao ponto de sair da aula
exausto. Isso é o verdadeiro treinamento marcial, dar o máximo de si o tempo
todo. Com tempo e treino uma aula será fácil
para esse aluno que não poupa energia em momento nenhum, pois ele se acostumou
a dar tanto de si que a quantidade de energia que ele tem é aumentada.
Podemos ver esse fenômeno "econômico" em vários exercícios específicos. Um deles é a flexão.
Esse exercício exige muito de um grupo específico de músculos, isso causa muita dor. Para evitar a dor e a
fatiga vemos muitas pessoas executando as flexões de maneira incorreta, seja
não flexionando ao máximo possível os braços ou então mexendo o quadril durante a
série. Tudo isso faz com que aquelas cinquenta flexões que o aluno fez não
sirvam para nada, os músculos não ficarão mais fortes e ainda por cima há um risco de lesão.
Outro exercício onde aparece a "economia" é a resistência. Nesse exercício ficamos na postura do cavalo por
um tempo determinado. Em geral, os alunos antigos conseguem fazer um angulo de 90º
com as pernas. Esse é o ideal, mas
vemos muitas pessoas fazendo o "cavalo de segurança" nas aulas e no
exame de faixa. O raciocínio é
simples: "se nesse exercício temos que ficar um tempo determinado, eu vou
me poupar para não cair". Percebemos que essa é a mesma "economia
inútil" que vimos nas flexões. Se tivermos medo de cair na resistência e
não damos o nosso máximo estamos deixando de treinar e consequentemente não
melhoraremos nosso corpo e mente. Quem pensa assim só está perdendo tempo e se prejudicando.
É preciso ter em mente
que algumas coisas são investimento e não gastos. Investir é justamente abrir mão de algo que temos agora para
termos um retorno maior depois. Assim, o estudante que estuda duas horas a
menos para se exercitar está investindo seu tempo. Da mesma forma, o empresário
que mantém o estoque em dia com os melhores produtos desde o início de seu negócio está
investindo seu dinheiro e, analogamente, o aluno de Kung Fu que sempre se dá ao máximo nas aulas está investindo sua energia.
Dito tudo isso podemos entender
que a "economia inútil" é uma linha de raciocínio que parece muito sensata e lógica,
mas que na verdade é somente uma desculpa para aliviar um incômodo momentâneo,
como alguns meses a mais de prejuízo,
a dor de um exercício físico e o sacrifício de deixar de fazer algo que
gostamos. Nem sempre é fácil diferenciar o que é necessário e o que é frívolo. Assim é muito fácil não vermos que usamos essa
linha de pensamento nas nossas atividades diárias. É preciso estar consciente
dos passos de cada tarefa, das exingências de cada trabalho para podermos
investir nossos recursos de forma correta. Tendo isso podemos avaliar o que de
fato temos que poupar e o que não podemos deixar de gastar.
Jonas Bravo
TSKF Padre Eustáquio
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