segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Prioridades

Tenho visto, ao longo dos meus 4 anos como instrutor, uma série de pessoas que desistem da academia por uma razão interessante: estão trabalhando demais.

Longe de mim questionar a agenda profissional de cada um, mas quero levantar a questão: vale a pena adotar uma escala de trabalho com uma quantidade de horas absurda?

A resposta seria a óbvia: "claro que não, mas o que posso fazer?". Na verdade você pode fazer muita coisa. Durante um bom tempo, eu mantive meu trabalho "normal" como CLT e comecei minha vida como instrutor.

Neste meio tempo, cuidei de alguns projetos complexos no meu trabalho "normal". Um deles exigia a implantação de um sistema para cerca de 2.000 estações de trabalho, gerando não apenas a mudança técnica, mas a necessidade de mudança de procedimentos feitos por algo em torno de 5.000 pessoas, divididas entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Ao longo do tempo, adotei alguns hábitos que me ajudavam a sair dentro do meu horário normal:

1- Eu sempre chegava no horário (quando possível, mais cedo)
Como todo mundo trabalhava até muito tarde, era comum chegarem atrasado no dia seguinte. Se eu queria fazer diferente, deveria começar diferente pelo início do dia e não pelo final (do tipo: "hj ninguém me pega, vou embora no horário")

2- Reuniões e conferências com horário de início e de fim
Eu sempre ia para reuniões sabendo o horário que iriam começar e o horário que iriam terminar. Claro que eram apenas previsões e, como bons brasileiros que somos, sempre tinham atrasos. Mas verificar isso com o organizador da reunião, ajuda a estabelecer um ritmo para a coisa e não fica tão solto, como aquelas reuniões intermináveis de 5 ou 6 horas.
Todas as reuniões que eu organizava eram de 1 hora de duração, todo mundo recebia a pauta da reunião com antecedência e as "lições de casa" que cada um deveria trazer. Mais tempo de reunião que uma hora, considero uma perda de tempo.
Voltando à questão dos atrasos, eu trabalhava com um notebook eventualmente, isso me permitia continuar trabalhando na sala de reunião até que ela começasse. Quanto eu não tinha o notebook disponível, usava meu caderno para anotar os próximos passos dos projetos e coisas que precisaria fazer na sequência da reunião.
Em tempo: eu jamais fazia outra coisa no meio de uma reunião, que não fosse me focar nela.

3- Não perca tempo no almoço
Eu tinha alguns colegas e chefes que sempre davam uma "esticadinha" na hora do almoço e faziam, no lugar da uma hora tradicional, uma hora e meia de almoço, "compensando" isso depois do horário.
Eu escolhia comer em lugar mais vazios e usava apenas 45 minutos do meu tempo total, para voltar mais rápido ao trabalho. Além disso, procurava almoçar 30 minutos antes ou 30 minutos depois do horário de pico de onde trabalhava (entre 13h00 e 14h00). Assim enfrentava menos filas no restaurante, no café e nos banheiros depois.

4- Você não é um criminoso
Na primeira vez que sai no meu horário, minha chefe olhou para mim com uma cara de inquisidora e fez aquela pergunta: "Já vai?". Eu poderia dar milhões de desculpas em voz bem baixinha para justificar minha saída, mas resolvi encarar de frente o rojão e disse: "Já fui".
Comoção geral na área. Alguém indo embora no horário!
Milagrosamente não fui demitido no dia seguinte.

5- Esteja pronto para ser o diferente
Após começar a sair no horário, passei a ser muito mais cobrado pelos meus projetos, especialmente na última hora de trabalho. Felizmente, os seres humanos (e chefes não são exceção) seguem padrões de comportamente parecidos e tendem a agir de forma similar dia após dia. Como, conhecendo meu trabalho e conhecendo meu chefe, eu já sabia de forma geral o que ele ia me pedir ao longo da última hora, eu deixava tudo pronto antes (lembra que eu chegava mais cedo do almoço?). Quando ele me pedia algo, eu já tinha pronto ou bem desenvolvido de forma que poderia entregar e ir embora no horário. (não sem um cara de espanto como prêmio).

A lista poderia ser mais longa, mais vou ficar por aqui. O importante é que, neste meio tempo, cuidei do meu trabalho com projetos importantes, cuidei do meu casamento e abri 3 academias com sócios fabulosos.

Talvez por isso eu me preocupe com o fato de ver pessoas que não treinam ou deixam de cuidar de si mesmas porque estão trabalhando muitas horas por dia. É tudo uma questão de prioridades. E não estou dizendo que todos devem passar a sair mais cedo todos os dias e fazer uma revolução contra seus chefes. Estou falando sobre reservar, ao menos, um horário para fazer uma hora de aula, três vezes por semana.

Você deve ser sempre sua primeira prioridade. Chefes vêm e vão, assim como empregos. Mas você vai ter que conviver com você mesmo a vida toda.

3 comentários:

  1. Muito bom o texto.

    Como fui Programador e Analista de Sistemas por mais de 25 anos fiz algo muito parecid com isso.

    Agora quando alguém me dá uma desculpa de que não tem tempo, eu não aceito nem a pau e sempre digo que "as desculpas mesmo quando verdadeiras não levam nada" e ainda acrescento dizendo que enquanto a pessoa diz isso vai encontrar pelo menos dez que em situação semelhante fez o que ele está dizendo que não tem tempo pra fazer.

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  2. Às vezes, no batente, embriagados pela vaidade ou pelo medo, esquecemos de parar um segundo para respirar, esticar as costas e lembrar que também somos um corpo. Então, ter um pouco de disciplina para sair na hora certa e conseguir chegar a tempo para a aula não é muito fácil, mas vale a pena. O primeiro sinal do vício no trabalho é quando, ao cumprir o horário CLT, você sente peso na consciência. Claro que um dia ou outro, o bicho pega e madrugamos na lida, mas quando isso vira regra... ai, ai. Ultimamente, tenho tentado mentalizar: o trabalho é um meio, não um fim.

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  3. Opa Danillo quanto tempo, deve fazer ai uns 8 anos que não o vejo!

    Palavras escrita com bastante atitude e comportamento isso justifica o que fazemos.

    O tempo ele é igual para todos nos que os complicamos por isso falamos não tenho tempo e mal percebemos que isso é criado pela gente.

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