Há
mais ou menos 3 semanas estava no final do treino quando um dos colegas de
treino, na pureza de seus 9 anos, fez uma pergunta simples mas que faz a gente
passar horas raciocinando sobre o tema: ‘Quando
a gente chega na faixa preta, a gente consegue desviar de balas?’. A
primeira reação dos que estavam no vestiário foi: ‘- Não, claro que não.’; -
Isso é coisa de filme’; ‘Na vida real não é bem assim’, coisas deste tipo. Eu
mesmo estava entre o coro.
Mas
esta pergunta ficou no subconsciente, clamando por uma resposta advinda de análise
sobre suas raízes e consequências, não apenas uma reação enviesada pelo dia a
dia fora do Kung Fu. Era preciso uma resposta pensada nos valores e costumes do
Kung Fu.
Após
buscar os ensinamentos do Mestre Gabriel e Shifu Danillo, tanto em aulas,
palestras e livros, cheguei à conclusão que com a correta aplicação dos
ensinamentos do Kung Fu pode-se sim desviar de balas, na verdade até muito mais
que isso como será dito nos próximos parágrafos.
Uma
das principais formas pela qual o Kung Fu te ajuda a desviar de balas é mostrar
que você não deve estar neste tipo de situação a não ser que você queira. É
isto mesmo: aprenda a antever situações de conflito que podem degradar
rapidamente para uma algazarra generalizada e/ou para agressões físicas
desnecessárias e simplesmente não esteja lá, não seja parte da confusão ativa,
nem seja pego de surpresa por ela.
Isto
pode ser exemplificado em duas situações de nossa academia: em uma de suas
aulas na TSKF Barro Preto, Shifu Danillo, foi questionado por um aluno o que
poderia fazer se tinha acabado o espaço para concluir uma forma. Sua resposta
foi explícita para o problema que estamos analisando: o problema de acabar o
espaço para a forma não apareceu no último movimento, mas sim nos primeiros
passos, na falta de planejamento do espaço tempo necessários para concluir a
forma. Em outro momento, quando da festa de inauguração da TSKF Padre
Eustáquio, Mestre Gabriel congratulou os Instrutores que fizeram diversas
demonstrações em um espaço menor que o habitual, dizendo que estes ‘(...)
demonstram o verdadeiro Kung Fu, por saber adaptar-se às situações reais, não
ficarem ancorados numa forma purista requisitante de espaço, não se prenderem à
limitação deste espaço (...)’.
Isto
não quer dizer que para se desviar de balas devemos sempre fugir de conflitos,
quaisquer que sejam. Mas é não se envolver em conflitos desnecessários, nada
construtivos. Procure dar sua opinião de forma fundamentada sobre um tema –
estude antes de falar/escrever, procure a origem do tema/conflito antes de
defender uma bandeira, defenda sua posição quando seus valores são ameaçados.
Mestre Gabriel nos ensina diariamente que expressar suas opiniões, mesmo que
contrárias à maioria e/ou desafiadoras, também é uma forma de praticar o Kung
Fu, de ensinar, de não estar em cima do muro, mas de uma forma que gere
construção. Shifu Danillo nos apresenta uma postura questionadora em diversos
temas, não impondo seu modo de pensar mas nos apresentando novos prismas de
vários assuntos, permitindo que exercitemos o pensamento e raciocínio lógico.
As
situações de ‘bala vindo em seu caminho’ podem ser várias: de fato uma situação
de arma de fogo; um grande problema que ameaça sua vida profissional; uma
grande ameaça à Academia; uma grave doença etc. Algumas delas, por mais que nos
esforcemos para evitar, podem vir em nossa direção. Então, o que fazer neste
caso?
Ao
final, por meio da dedicação às aulas, envolvimento com a academia, estudos,
participação de eventos, o aluno vai evoluindo prática e teoria do Kung Fu,
aprendendo que estar numa situação de ‘frente a bala’ e o que fazer neste caso,
depende dele, de sua postura e de suas ações, respeitando e honrando seu mestre
e Shifus.
São
ensinamentos simples, passados através do convívio, aulas, livros, artigos e posts que identificamos fatores chaves
para saber como agir nestas situações para que a ‘bala’ não te pegue de
surpresa: planejamento, envolvimento, adaptabilidade, evolução, temperança,
ação. Mestre Gabriel repete bastante uma adaptação da frase de Napoleon Hill: ‘Tudo
o que a mente humana pode conceber, ela pode conquistar’, ou nas palavras do
Mestre ‘Nada acontece sem que antes tenha sido concebido na mente’.
Para
resolver as situações de ‘bala vindo em seu caminho’ é necessário planejamento,
envolvimento, emoção e ação. Com estes quatro ingredientes é possível resolver
os problemas e as situações mais ameaçadoras ou complicadas que nos aparecem no
dia a dia. Não adianta desespero ou desânimo. É preciso encarar o problema de
frente, entender o que precisa ser feito, quem pode te ajudar e, após a
resposta ter sido concebida, partir para ação! Quando se internaliza estas
lições, chega-se à conclusão que é possível sim antever problemas e desviar de
balas; pode ser que ela passe raspando, mas dificilmente uma situação te pegará
desprevenido ou te deixará inerte novamente.
Herick
Morais
Aluno
TSKF Barro Preto