Há muito tempo atrás, minha esposa lecionava inglês em nossa casa e um
de seus alunos, era um jovem de família muito pobre que morava na região.
Eu por outro lado era um analista de sistemas, uma profissão maravilhosa
que exerci com muita dedicação e sucesso ininterruptamente por vinte e quatro
anos.
Sempre fui uma pessoa de grandes sonhos, e sabia que na minha profissão,
embora com muito sucesso e ganhando muitíssimo bem, jamais conseguiria realizar
meus verdadeiros sonhos, e nessa época eu estava envolvido num negócio de Net
Work Marketing, que me proporcionava muito crescimento pessoal, pois
participávamos de muitos seminários e ouvíamos grandes ensinamentos de pessoas
de grandes sucessos.
O negócio desse negócio eram as pessoas, e nesse negócio procurávamos
por pessoas que como eu desejavam realizar os seus sonhos, não importando se
eram ricas ou pobres, mas sim se possuíam sonhos e desejavam realizá-lo.
Naquele negócio, não discriminávamos ninguém, pela simples razão de que
nunca poderíamos saber quem poderia possuir um grande sonho que os
impulsionasse a participar do negócio afim de realizá-lo, por esta razão,
convidei aquele jovem que imediatamente aceitou entrar juntamente comigo no
negócio.
Aquele negócio era incrível, entretanto, muitas mudanças internas seriam
necessárias a quem desejasse obter sucesso com nele e após mais ou menos dois
anos tentando construí-lo, falhei e junto comigo aquele jovem.
Nunca me arrependi de ter entrado naquele negócio, e vou aproveitar esta
oportunidade para agradecer a João José da Silva Velloza por ter me colocado
nele e que é meu amigo até hoje.
Meu crescimento pessoal naquele negócio foi enorme e o recomendo até
hoje a qualquer pessoa que deseje crescer pessoalmente.
“Experiência não é o que lhe acontece, mas sim aquilo que você faz com
que lhe aconteça”, portanto,
na verdade não falhei, obtive experiência.
Como eu nunca parei de tentar realizar meus sonhos, e eu já havia tido
por duas vezes o negócio de academia de Kung Fu, não custava nada tentar mais
uma vez, foi assim que agora com muito mais experiência eu resolvi tentar
novamente e convidei novamente aquele jovem, a quem de agora em diante chamarei
de JMS para ser meu aluno, pois ele na época estava desempregado, e ter uma ocupação
seria muito importante, além do mais eu acreditava no seu potencial.
Ele achou muito estranho, pois desde que me conhecera, só havia me visto
trajando terno e gravata, assim, como seria possível eu ser um professor de
Kung Fu. Mesmo assim ele aceitou imediatamente.
Eu por outro lado, já havia achado o local e já tinha firmado o contrato
de locação e estava iniciando a montagem da academia. Quando estava no final da
montagem e faltava apenas a colocação dos espelhos, chamei o JMS e disse-lhe
que iríamos colocar os espelhos.
No dia combinado, peguei o JMS em sua casa, e fomos até o local.
Chegando lá, e não vendo ninguém, ele me perguntou: Onde está o pessoal que vai
colocar os espelhos? Eu respondi: O pessoal somos nós. Era a primeira lição que
eu estava lhe ensinando que diz o seguinte: A energia da pessoa que empunha a
arma ou constrói uma obra nela fica impregnada, e isso é muito importante.
JMS praticava e desenvolvia a cada dia, como eu havia previsto, até que
um dia sob minha orientação começou a ajudar a dar aulas na academia e
desenvolveu muito, tanto, que um dia resolvi abrir uma filial confiando-lhe a
responsabilidade.
O local onde estávamos era muito ruim, e estávamos quase falidos, mas o
local que eu havia encontrado para montar a filial era ótimo, então, montamos
uma linda academia com tudo que tinha direito.
Na época eu poderia ter dito para o JMS que ele ficasse na academia que
estávamos, onde com certeza iríamos falir, que eu como Sifu, iria para a filial
nova que era muito melhor. Mas, não foi isso que eu fiz, muito pelo contrário,
eu inaugurei a nova academia do jeito que manda o figurino e coloquei o JMS
como instrutor responsável e continuei na academia que estava falindo e
recomendei apenas uma coisa ao JMS. Que se um dia, por alguma razão, ele
resolvesse não mais continuar comigo, que me avisasse com antecedência, no que
concordou prontamente.
Durante o tempo que estava comigo e nos próximos três anos o JMS foi um
discípulo exemplar e eu fazia questão de reconhecer e edificá-lo em todos os
eventos e ele fazia o mesmo comigo.
Nestes anos todos éramos uma excelente equipe, eu fazia questão de
passar em sua casa todos os sábados pela manhã, passar na padaria e pagar o seu
café a caminho da academia. Todos os dias, de noite eu passava na academia e o
deixava em casa, pois ele morava em minha cidade.
Passado estes anos, comecei a perceber uma grande revolta interior em
JMS que o estava corroendo e o consumia dia a dia. Eu percebia isso, porque
quando eu chegava na filial, ele já não me apresentava mais aos alunos, e é
costume, por respeito, quando o Sifu ou o Mestre chega, o instrutor parar a
aula e pedir para que os alunos o cumprimentem, e isso não mais ocorria. Era
como se ele se achasse o Mestre daqueles alunos, pois afinal de contas, era ele
quem os estava ensinando.
Quando ele entrava no meu carro, suspirava, ficava calado, e muitas
vezes chorava, algo o estava consumindo. Repentinamente começou a faltar em
algumas aulas especiais e dizer que tinha compromissos. Começou a errar constantemente
em demonstrações, eventos e campeonatos.
JMS, nunca pagou mensalidade, nunca pagou por seus exames, e sempre o
tratei como a um filho, e embora eu soubesse que isso era um erro, isso não me
impediu de continuar e cometer o maior erro de minha vida.
Nunca vou me esquecer daquele dia de domingo em que JMS repentinamente
solicitou minha audiência após a aula e me disse o seguinte: A partir de
amanhã, não darei mais aulas, vou seguir meu caminho fazendo outras coisas. Eu
não compreendi nada, pois anos atrás nós havíamos combinado, que se um dia
houvesse algum problema, ele me avisaria com antecedência.
Percebendo sua revolta interior, só me restou dizer o seguinte: Se for
esta a sua decisão, eu nada posso fazer, espero que você esteja fazendo a coisa
certa, afinal de contas, todo Mestre sabe, que um dia, seus discípulos devem
andar por conta própria. Eu só não imaginava o que ele havia feito, que foi o
seguinte:
- Na calada da
noite, ele entrou no sistema da academia e imprimiu etiquetas auto-adesivas
com o endereço de todos os alunos.
- Mandou carta
para todos os alunos dizendo que havia aberto sua própria academia numa
rua acima da minha, e que quem quisesse treinar com ele pagaria apenas R$
7,00 até que terminasse seu plano na minha academia. Nesta época o valor
de nossa mensalidade era R$ 90,00 e obviamente que treinar com o mesmo
instrutor por R$ 7,00 seria muito melhor. Tenho esta carta guardada comigo
até hoje para comprovar sua traição.
- De posse dos
telefones dos alunos também extraídos do computador, ligou pessoalmente
para cada um deles e marcou uma reunião numa praça perto da academia para
que pudesse persuadi-los a treinar com ele.
- Por fim,
apagou do computador todos os contatos que tínhamos de pessoas e empresas
que utilizávamos quando montamos a academia e quando realizávamos os
campeonatos.
- Tudo que ele
sabia a meu respeito que poderia denegrir a minha imagem perante os
alunos, ele utilizou como forma de persuasão.
Sempre fui um estudioso da natureza humana e reconheço que nunca pude
imaginar que JMS pudesse chegar a tal ponto, e a única coisa que me restava,
era tentar reverter a situação, e com a ajuda de dois discípulos que eram
amigos de muitos alunos e que não concordaram com o que ele havia feito, MD e
NB, que por acaso eram os proprietários da D.E., por onde lançamos o meu livro,
marquei uma reunião e fiz o que pude, entretanto, semelhante atrai semelhante e
pagando apenas R$ 7,00, a maioria dos alunos o seguiram.
Meu advogado me incentivou a processá-lo por concorrência desleal e outros
artigos, mas eu preferi deixar que o universo cuidasse disso, pois afinal de
contas, O Karma não perdoa. E todos os que agiram mal com seus Mestres pagaram
caro por isso. A história registra muitos casos célebres. O repúdio dos demais
instrutores exclui e isola o traidor. Todos pensam: quem trai seu próprio
Mestre, o que não fará com seus colegas? Seus alunos raciocinam da mesma forma
e perdem o respeito por ele. Finalmente, vítima do seu orgulho, falta de
humildade e gratidão, termina execrado por todos. Passa a amargar uma carreira
que não terá mais o mesmo brilho. Depois não adianta deplorar o sucesso
perdido, o qual só teria sido possível caso contasse com o apoio e a
recomendação do seu Mestre e de todos os seus colegas, discípulos dele, se não
tivesse feito vergonha.
Com essa atitude a única coisa que JMS conseguiu, foi provar que era
incompetente, pois se não fosse, teria conseguido por seus próprios méritos.
Este tipo de discípulo tem vergonha de olhar nos olhos de seus alunos, pois
carrega o peso da culpa e teme que seus alunos enxerguem isso em seus olhos,
quando está sozinho chora, pois não pode desabafar com ninguém.
Segundo o grande escritor Napoleon Hill, “Toda adversidade traz consigo a
semente de um bem superior ou equivalente” e “Tudo que a mente humana pode
conceber e acreditar poderá realizar”, portanto, nosso amigo JMS,
concebeu, acreditou e realizou aquilo que desejava, mas não conseguiu destruir
o seu Mestre e como vimos, o Karma não perdoa. Por outro lado, não fui
destruído, e no momento, sou a maior academia do Estilo Louva-a-Deus da América
latina.
Quanto a JMS, ele
resistiu por alguns anos com sua academia, mas hoje faz parte da grande maioria
que montam academias e falem.
Esse ano muitos fatos ocorreram na TSKF e qualquer semelhança com essa
história é mera coincidência. Em escolas de Kung Fu é muito comum alguns alunos
antigos discordarem do mestre e reunirem grupinhos a fim de denegrir a imagem
do mestre para tentar destruí-lo. Talvez você mesmo que esteja lendo essa
publicação possa estar sendo envolvido numa dessas tramas sem nem mesmo perceber
o que está acontecendo.